Uma manhã chuvosa e fria, ao menos para os padrões cariocas, não impediu a presença de pais, mães e professoras na roda de conversa Reconhecendo a branquitude, realizada na escola no último sábado (4/6) pela comissão Antirracista da Michaelis. No evento realizado em formato híbrido, cerca de 30 pessoas refletiram sobre como o racismo estrutura a sociedade brasileira e concede, há séculos, privilégios para poucos e prejuízo para muitos.
A roda foi mediada por Alexandra Tsallis, professora do Instituto de Psicologia da UERJ e coordenadora do Laboratório afeTAR. Como ponto de partida, assistimos ao vídeo da palestra da pesquisadora Lia Vainer Schucman para a Federação das Escolas Waldorf, em que ela define a branquitude como constituição da identidade social do branco numa sociedade racista, que transforma a cor da pele num marcador de privilégio.
Em seguida, iniciamos uma rica e profunda conversa sobre como percebemos nossa raça e quais ações podem ser implementadas na escola e em nossas vidas profissionais e pessoais para uma prática verdadeiramente antirracista.
Responsabilidade de todos
Num consenso entre os presentes, lamentou-se a baixa presença de crianças negras na escola – muita vezes ainda vistas como donas de aparências “exóticas” pelos próprios colegas brancos das turmas – e destacou-se que ainda falta muito para uma Michaelis antirracista. Porém, assumir essa falha é um passo importante e fundamental do processo, como destacou Alexandra. “A gente precisa desse enfrentamento. Precisamos de ampla ação afirmativa”, reforçou.
As falas dos participantes da roda partiram de conflitos e sentimentos difíceis – seja por parte de mães que precisam acolher reflexos do racismo relatado por suas filhas negras, seja por professoras que se comovem e reconhecem que faltam conteúdos pedagógicos para alterar a educação racista exercida há séculos pela branquitude.
Outras dúvidas agregaram ao debate. Algumas mães se questionam sobre a capacidade de incorporação de novas práticas e visões para a pedagogia Waldorf, que ainda carrega forte referência na cultura alemã e europeia. Outro ponto central foi a necessidade de não dependermos apenas de mudança curricular para incorporar outras perspectivas para a prática escolar. “Que outras cosmovisões podemos trazer além do currículo? Como sair do lugar do massacre das formas de pensar das culturas brancas?”, perguntou a professora Milena. “Precisamos conversar mais sobre esse tema e sobre como abordar com as crianças”, destacou.
“Ainda acredito que eu posso atuar na transformação dessa escola”, relatou Catarina, que é funcionária, mãe de aluna e membro da atual diretoria da APAM. Alexandra concluiu com três sugestões de encaminhamento: 1) que porteiros e faxineiras sejam apresentadas às novas famílias no momento de matrícula; 2) que a discussão sobre a festa semestral do Fundamental seja pauta central no próximo Conselho de Famílias e; 3) Que o debate sobre letramento racial siga ocorrendo em reunião periódica. Essa última sugestão foi completada por Mayra, da comissão Antirracista, lembrando que a proposta de grupo de estudo já está em andamento na comissão, que se reune atualmente toda primeira sexta-feira do mês, on-line, às 10h.
Por Júlia Tavares, mãe de Caetano (Jardim Uirapuru) e Clara (Maternal Colibri).
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Quer ir mais fundo?
Assista ao vídeo de Lia Vainer que inspirou nossa roda de conversa:
https://www.youtube.com/watch?v=zIM85kQ0PuQ&t=1s
Segue o link para assistir como foi a nossa roda de conversa:
https://bit.ly/ReconhecendoaBranquitude
senha: Reconhecer…22
Envie sugestões, entre em contato e participe da comissão Antirracista. Contato Mayra: (21) 99891-4723