ENTRE A TROCA DE DENTES E A PUBERDADE – SÉRIE PEDAGOGIA WALDORF – PROF. ALINE – PARTE 5

Você tem curiosidade em conhecer a Pedagogia Waldorf? Então, aproveita!
Nesta série de postagens de textos da Professora ALine contamos como a Pedagogia Waldorf enxerga o ser humano e atua em seu desenvolvimento integral.

 

ENTRE A TROCA DE DENTES E A PUBERDADE

A passagem do 1° para o 2° setênio, marcada pela tão comentada troca da primeira dentição, traz características novas ao desenvolvimento infantil – mas que não acontecem bruscamente. Alguns aspectos da criança na fase anterior permanecem aqui por alguns anos, de forma que vão diminuindo gradativamente ou se metamorfoseando.

É certo que a criança, que antes desejava incansavelmente experimentar o mundo brincando e se sentia alimentada pelos curtos contos de fadas do jardim da infância, deseja agora algo a mais; e mostra-nos isso claramente através de seu comportamento.

As brincadeiras, que já haviam ganhado nova conotação no final do jardim de infância, passam a ser cada vez mais estruturadas: as crianças planejam o que fazer tendo uma meta a atingir, continuam de onde pararam no dia anterior e revezam papéis de gente grande ocupando-se com o mundo (são policiais, vendedores, bombeiros, mães, pais, professores, continuando a dar livre curso a sua fantasia criativa). Os desafios corporais tornam-se mais laboriosos, os jogos com regras começam a fazer parte do universo do brincar; acontecem as brincadeiras de susto, interesse pelas mágicas, até que jogos de tabuleiros vão ganhando espaço e as crianças que antes se interessavam somente por brincadeiras com muitos movimentos, passam a também brincar sentadas com os amigos por longo tempo.

Na imitação dos fazeres do adulto (que acontece bastante durante a brincadeira) a criança passa a buscar o sentido do que se está imitando. Antes ela rabiscava porque via adultos escrevendo, agora deseja imitar o movimento das letras e o ato de ler, por exemplo, tentando descobrir os mistérios ali existentes. E é através desta imitação que as crianças, ao adentrarem pela primeira vez numa sala de aula totalmente diferente do que vivenciavam antes, conseguem seguir o ritmo de seu 1° dia de aula.

Dentre as histórias, os pequenos contos de fadas vão dando lugar a contos maiores. E no decorrer de cada ano, outras histórias virão alimentando o interior da criança conforme suas necessidades, trazendo exemplos diversos de formas de atuação significativa no mundo, fazendo com que a criança deseje inserir-se neste mundo e também viver sua vida com sentido.

A memória – característica deste setênio – se apresenta, fazendo com que a criança seja capaz de narrar os acontecimentos do dia anterior detalhadamente e ouvir contos maiores, agora contados em partes por alguns dias, recuperando o que foi contado anteriormente; o aprendizado, fruto de suas vivências, tem registro na memória.

Nessa fase da vida se faz necessário a presença de um adulto que apresente o mundo para criança. E a maneira como este é apresentado, faz com que ela desenvolva verdadeiro sentimento de veneração por essa pessoa que lhe traz ‘a alegria de viver, o amor pela existência, a força do labor’, considerando-a uma verdadeira autoridade, alguém digno de ser imitado e merecedor de seu amor por atuar no mundo com sentido.

Steiner nos afirma que “o sentimento moral criado nesses anos pelas imagens da vida e pelas autoridades exemplares adquire sua segurança quando, pelo sentido estético, o bom é percebido como belo e o mal como feio”. Diante desta colocação, destaco mais uma vez a necessidade de, enquanto adultos, estarmos em constante ocupação com nosso processo de auto-educação, pois somos os olhos que a criança se utiliza para enxergar o mundo, o sustentáculo onde ela deposita toda sua confiança.

Texto: professora Aline Aparecida